De passagem por BH, Cláudia Liz fala sobre seus projetos – Culturadoria

18 de maio de 2023 Off Por admin

A artista visual Cláudia Liz veio à capital mineira para a abertura da 23ª edição da Mostra Curta Circuito

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Momentos antes de adentrar o Cine Humberto Mauro para conferir a primeira sessão da 23ª edição da Mostra de Cinema Curta Circuito, na terça-feira, dia 16, a artista plástica, ilustradora e atriz Cláudia Liz, uma das convidadas especiais da noite, confessou, à reportagem do Culturadoria: “Na verdade, é a primeira vez que vou assistir a este filme na tela grande”.

Cláudia Liz, na abertura da Curta Circuito, em BH (Valwander fotografias/Divulgação)

Cláudia Liz explica que, embora “As Feras”, de Walter Hugo Khoury, filme que inaugurou a edição, pensada a partir do tema “Amores Brasileiros”, tenha sido filmado em 1995, a produção só chegou ao circuito comercial seis anos depois. “Naquela época (da estreia), eu enfrentava uma depressão e acabei não assistindo nos cinemas”, confessa ela.

Fato, mais recentemente, Cláudia Liz chegou a assistir ao longa – protagonizado por Nuno Leal Maia, tendo ainda, no elenco, Lucia Verissimo e Monique Lafond, entre outros -, mas no Youtube.

“Então, não considero que conte”, diz ela, que, nos anos 1980/90, ficou famosa também como modelo. Aliás, famosíssima, tendo morado em Paris, Milão, Nova Iorque e Tóquio, onde desfilou para grifes como Chanel e Comme des Garçons.

Cláudia Liz, como seus fãs bem sabem, foi capa de inúmeras revistas e também se tornou apresentadora da MTV.

Depressão

A depressão de Cláudia Liz sucedeu um momento particularmente dramático de sua vida: em 1996, aos 27 anos, pouco antes se submeter a uma cirurgia de lipoaspiração, ela entrou em coma por conta de efeitos da anestesia. À época, o caso comoveu o Brasil. Recuperada, Cláudia passou não só pela citada depressão como conviveu com episódios de síndrome do pânico.

Mais de 25 anos depois, ela não disfarçava a expectativa de finalmente assistir ao filme, no Cine Humberto Mauro, em sessão que foi sucedida por um debate que, além de Cláudia, contou com os críticos Daniel Salomão Roque e Donny Correia (especialista na obra do diretor paulistano falecido em 2003).

Após a exibição de “As Feras”, o Cine Humberto Mauro sediou um debate (Valwander fotografias/Divulgação)

“Porque o Walter foi quem me levou para o cinema, que me fez entrar na profissão. ‘As Feras’ foi o primeiro filme que fiz. Aí, agora, quero ver tudo, lembrar de tudo”, revelou, logo na chegada.

Carreira

Logo depois de “As Feras”, Cláudia Liz seguiu atuando em produções como o longa “As Meninas”, de Emiliano Ribeiro, baseado na obra de Lygia Fagundes Telles, junto a Adriana Esteves e Drica Moraes. O trio, aliás, arrebanhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Cartagena pela empreitada.

Cláudia Liz também atuou na minissérie “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1998) e em novelas da Globo e da Band, como “Uga Uga”, “Pecado Capital”, “Roda da Vida” e “Serras Azuis”. Já há algum tempo, porém, ela optou por se dedicar às artes plásticas.

“Eu estive por uns dez anos num escritório de Comunicação Visual e, daí, a ‘Folha de S. Paulo’ me chamou para ilustrar a coluna Tendências e Debates. Aceitei e, desde então, assumi a profissão de artista visual”, conta.

E ela adora. “Porque é uma vida criativa, mas reservada. A vida de cinema e de TV é muito pública, muito exposta, o tempo inteiro. E não é muito a minha personalidade. Eu gosto de projetos muito específicos”, diz ela, durante a entrevista, realizada em uma mesa do café.

Artista

Em seu perfil no Instagram, Cláudia volta e meia mostra suas telas. “Eu gosto muito de pintar pessoas, de fazer portraits. Mas gosto de interpretar (a pessoa retratada) e de revelar (por meio do movimento dos pincéis, o que percebeu do interior da pessoa). Por isso, antes (de partir para a pintura), gosto de conversar com a pessoa, fazer um briefing. Falar da vida dela, assim como você está fazendo comigo, agora”, compara.

Além dos retratos, a artista gosta de trabalhar temas norteada por um tema. “Gosto muito de abordar o universo feminino, por exemplo”. Em 2021, ela foi foi uma das atrizes convidadas para a 7ª Exposição da Paulista, iniciativa da União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Batizada de “Feminino Plural”, a edição, que teve Lilian Pacce como curadora, também contou com trabalhos da mineira Tainá Lima, a Criola. As obras de Cláudia e Criola foram expostas por , entre a rua Augusta e a alameda Campinas.

“Para esta mostra, elaborei vários temas, falei de etarismo, de auto-estima”, lista ela, que homenageou mulheres que admira, como a artista Tomie Ohtake (1913-2015), a líder indígena Sonia Guajajara, a atriz Taís Araújo, a jogadora Marta e a filósofa e feminista negra Djamila Ribeiro, entre outras.

Na “Folha”, conta Cláudia, ela recebe o texto a ser ilustrado para deixar suas ideias fluírem. “Eu tenho que interpretar. Isso me dá um prazer enorme: interpretar textos”.

O “La La Lar” de Cláudia

Além desses projetos, Cláudia Liz vem se dedicado a “La La Lar”, no qual mostra a transformação de sua casa em ateliê e showroom. “Já que estava fazendo, falei: ‘Ah, vou gravar isso’”.

Mas, desta vez, Cláudia quis, antecipadamente, se cercar de todos os cuidados possíveis. “Chamei consultoria financeira, advogada, fui fazendo todos os processos para não estar errada”, diz ela, que já contou que, em tempos idos, foi vítima de pessoas que agiram de má fé, o que a fez ter prejuízos financeiros consideráveis.

Diálogo

Feliz por estar de volta a Minas, Cláudia confessa não ter na memória o registro exato da última vez que esteve especificamente em BH. “Olha, tenho sérios problemas com isso”, brinca, referindo-se a datas. Mas relata que foi visitar Inhotim em 2019. “À época, porém, não passei por BH, fiquei em Tiradentes. Mas amo Minas”, sustenta.

Casada há 15 anos com Beto Giorgi, Cláudia é mãe de Lucca Salvatore, que, aliás, completa 30 anos no próximo sábado. Ela fala sobre o rebento: “Ele é produtor de eventos, faz clipes, é DJ. Trabalha com essas coisas de metaverso, é dessa turma”, diz.

Perguntada se não tem vontade de contar tudo o que viveu em uma biografia, ela é enfática: “Eu gosto de temas que são pertinentes ao que a gente vive hoje”. Mas Cláudia frisa: não é que ela goste de falar sobre esses temas, mas, sim, de conversar. “Me interesso pela troca. Afinal, entendo que a gente vai aprendendo junto”, pontua.