“Daisy Jones and The Six” não é nenhuma obra-prima, mas também não merece ser descartada – Culturadoria

15 de abril de 2023 Off Por admin

A série “Daisy Jones and The Six” mexe com fãs apaixonados da autora Taylor Jenkins Reid e conquista novos públicos em adaptação

Por Helena Tomaz | Assistente de Conteúdo

Adaptada do livro homônimo de Taylor Jenkins Reid, “Daisy Jones And The Six” promete contar a história de ascensão e queda da banda (fictícia) que dominou as rádios dos Estados Unidos nos anos 70. A trama, é claro, envolve os elementos típicos de quase toda história sobre rock: paixões, vícios, brigas e traições.

Foto: Lacey Terrel/Prime Video

Assim como “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”, também escrito por Taylor Jenkins Reid, o fio condutor da história são as entrevistas dadas pelos integrantes da banda. Vinte anos depois da separação do grupo, cada um conta a própria versão dos fatos. 

Essa estratégia garante mais dinamicidade à série – além de comentários ácidos e engraçadíssimos de alguns personagens. No entanto, nas cenas intercaladas pelos relatos (que são quando, de fato, a série acontece) não deixam claro quem as estão narrando. E o narrador, é claro, muda tudo, em qualquer história.

Vale comentar que, apesar de o roteiro colocar a banda como “a maior do mundo”, a história mostra outra coisa: ela teria sido o topo das paradas nos Estados Unidos, que, é claro, não são uma representação sólida do restante do mundo. Apesar de ser um detalhe na narrativa, fatos como este geram estranhamento em quem assiste. Até porque, a série, veiculada em streaming, atinge espectadores de todo o mundo. 

Trailer de Daisy Jones And The Six

Dèja-vu x Inovação

Os componentes que estruturam o seriado não são novidade. A rejeição materna, a paixão pela música, o surgimento de uma banda, o abuso de drogas, e o enemies to lovers (termo em inglês para designar o clichê romântico em que pessoas que se detestam se apaixonam). Todos esses clichês já foram vistos e revistos nas obras hollywoodianas.

Esses elementos não dão nenhum ar de novidade à série – pelo contrário, na verdade – mas também não a tornam ruim. Mesmo apesar de todas essas repetições, a produção ainda é capaz de prender o espectador e fazê-lo querer maratonar os episódios. Talvez os clichês realmente sejam clichês por um motivo. 

Contudo, a série traz novidades interessantes no que diz respeito à experiência do espectador. Junto com o lançamento dos episódios no Prime Video, o álbum “Aurora”, que, as personagens Daisy e Billy compuseram juntos, foi publicado no Spotify. Assim, quem assiste a série e fica curioso em busca das canções completas, pode ouví-las na íntegra e adicioná-las às próprias playlists. Além é claro, de gravar e publicar vídeos usando as músicas no TikTok e no Instagram. Estratégia perfeita para os tempos em que vivemos.

Além disso, para a divulgação do lançamento, foi promovido um show em que os próprios atores cantavam e tocavam os sucessos de Daisy Jones And The Six. Para fazer a série, aliás, alguns deles, como Sam Claffin, que interpreta o protagonista Billy, aprenderam a tocar e cantar apenas para a série. Sam, que fez o sucesso de vendas “Como eu era antes de você”, compartilhou um pouco do processo de aprendizado nas redes sociais.

@samuelclaflin

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? original sound – SamClaflin

Um passo à frente, dois para trás

Apesar disso, as músicas não são boas o bastante para convencer o espectador de que foram o suficiente para levar o grupo ao sucesso absoluto. Provavelmente por terem sido compostas pela própria autora do livro, elas não parecem passar sentimentos verdadeiros. Por terem sido compostas a partir de contextos fictícios, apesar de terem boa interpretação e produção, falta essência.

Da mesma forma, os conflitos entre os personagens não parecem ser o suficiente para fazer com que a banda rompesse e que os integrantes passassem 20 anos sem se ver. Ou que Daisy, Billy e os outros integrantes da banda realmente fossem talentos fora da curva.

Nesse ponto, a série traz um elemento com potencial de ser muito interessante: personagens principais desagradáveis. No entanto, o roteiro falha nesse quesito. Ainda que as brigas entre Daisy e Billy façam sentido na narrativa (voltamos, aqui, ao enemies to lovers), por vezes, elas só geram antipatia pelos personagens principais da série. 

Se há um lado positivo nisso, entretanto, é que dá espaço para alguns personagens secundários brilharem. O destaque vai para a tecladista Karen, uma inglesa inteligente, decidida e cheia de estilo. Warren, o baterista, também não passa despercebido: o jeito tranquilão – mas sensato – dele trazem um toque de humor para a série. Além, é claro, de Camila, a namorada de Billy que, apesar de não ser integrante da banda, é a essência do grupo.

Dos livros às telas

A autora do livro que originou a série, Taylor Jenkins Reid, é dona de outros sucessos de público, que foram impulsionados pelas comunidades de literatura on-line. Chamadas de Booktok ou de Booktube, de acordo com a plataforma em que os fãs veiculam conteúdo literário, esses grupos fizeram de “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” seu queridinho. 

Capa dos livros “Malibu Renasce”, “Daisy Jones And The Six” e “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”, de Taylor Jenkins Reid. Reprodução/Amazon.

Esse, por sua vez, também está sendo adaptado para as telas, dessa vez em forma de filme, pela mesma produtora de “Daisy Jones and The Six”, a Hello Sunshine. Fundada pela atriz Reese Witherspoon, a produtora é especializada em adaptações e tem foco em colocar mulheres nos centro das narrativas. Com séries e filmes de sucesso, são da Hello Sunshine produções como “The Morning Show”, “Big Little Lies” e “Pequenos Incêndios Por Toda Parte”. 

As histórias de Taylor Jenkins Reid fizeram tanto sucesso e têm tanto potencial para produções audiovisuais, que a própria Hello Sunshine, além de “Daisy Jones And The Six” e de “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” está adaptando “Malibu Renasce”, livro (um pouco) menos famoso da autora.