"John Wick 4: Baba Yaga" entrega o que propõe, mas exagera na dose – Culturadoria

22 de março de 2023 Off Por admin

Acumulando quase três horas de duração, o quarto filme da série “John Wick” entrega ação excelente, mas arrastada.

Por Caio Brandão | Repórter

Filmes de ação constituem uma das facetas mais populares e icônicas da produção cinematográfica. Esse fenômeno abriu portas para uma quantidade infindável de longas genéricos que não passavam de emulações dos grandes clássicos. Indo contra essa lógica, a saga John Wick, protagonizada pelo veterano Keanu Reeves, conquistou destaque ao propor uma visão atualizada do que um filme de ação pode ser.

Foto: Murray Close/Getty Images

As coreografias brutais e dinâmicas de artes marciais foram combinadas com um amplo leque bélico remetente à velha guarda dos famigerados “filmes de brucutus”. Essa junção formou uma aura singular, impressionando os fãs antigos do gênero e convencendo novas gerações de que esse tipo de obra ainda pode ser relevante.

Considerando tudo isso, o grande desafio de “John Wick 4: Baba Yaga” é mostrar o que essa fórmula ainda pode oferecer de interessante.

Trailer de “John Wick 4: Baba Yaga”

O lugar onde tudo termina

A narrativa passa a sensação de que “Baba Yaga” é o ponto culminante da jornada de John Wick. Logo, não há uma preocupação de introduzir ou desenvolver muito os personagens. Assim, o que é apresentado, na verdade, é um contexto dentro do qual a conclusão do arco do protagonista se dará.

Para quem acompanhou a saga, isso não é necessariamente um problema. Porém, aqueles que terão seu primeiro contato a partir do quarto filme podem sair do cinema com o sentimento de que tiveram uma experiência incompleta. 

Não que seja algo que estrague a fruição da obra – afinal, ela faz parte de uma quadrilogia. Contudo, ter assistido aos longas que vieram antes pode ser um fator decisivo para conseguir aproveitar todo o potencial de “Baba Yaga”. Sendo assim, esteja avisado.

A questão é que esse processo pode ser um pouco redundante, já que o último filme não oferece nada exatamente novo. Sim, existe ali um ar de encerramento, mas as novidades acabam aí. 

A impressão de que é mais do mesmo é inevitável. Partindo daí, cabe a cada um decidir se esse “mesmo” vale o preço do ingresso. “John Wick 4” não falha em entreter, mas também passa longe de inovar. 

Precisamos falar sobre Donnie Yen

O que diferencia a ação da série John Wick de outras obras é o estilo. Desde a brutalidade fluida das cenas de combate até a inventividade de alguns elementos – como o terno à prova de balas -, os roteiristas deram vida a algo que tem uma personalidade forte e demarcada.

Então, entra em cena o ator Donnie Yen, se moldando perfeitamente à proposta. Não seria exagero dizer que a presença dele é o ponto alto do filme. A performance em si não é cheia de nuances ou toques sutis, mas, convenhamos: ninguém vai ver John Wick pelo drama. O mais importante é a ação, e, nisso, Yen entrega absolutamente tudo.

Combinando atuação com artes marciais, Donnie é um dos mais consagrados atores do gênero, junto a nomes de alto calibre, como Jackie Chan e Jet Li. Dito isso, é surpreendente que ele roube a cena como roubou, especialmente quando o protagonista é Keanu Reeves, que, nos últimos anos, voltou a se tornar uma das personalidades mais queridas de Hollywood. 

Reeves não está mal no filme, mas o jeito que Yen incendeia qualquer sequência de ação tem que ser notado. O papel vivido pelo ator – Caine, o assassino cego – ajuda bastante nesse processo. A interpretação e a presença de Donnie concedem ao personagem uma energia única, como se ele fosse a personificação de uma violência metódica, que, ao mesmo tempo, amedronta e impressiona.

O pecado capital de Baba Yaga

Mais uma vez com a direção de Chad Stahelski, a obra em si segue a estrutura já estabelecida na saga, sem nenhuma revolução, mas se mantém coerente com o que popularizou John Wick. O problema é que, ao longo das quase três horas de duração, tudo que há de bom é diluído ao extremo. 

As cenas de ação, embora muito bem coreografadas, se arrastam por tempo demais. Isso faz com que os grandes momentos estejam separados por sequências que poderiam facilmente ser reduzidas – ou até mesmo cortadas. Claro, a ação é o carro chefe, mas a lógica de que quantidade supera a qualidade acaba permeando a obra.

Rina Sawayama

Isso também se aplica a coadjuvantes promissores que, aqui, não receberam o devido destaque. Um exemplo: Rina Sawayama, um dos maiores nomes da música pop atual, está presente no elenco, mas seu personagem, Akira, acaba se perdendo no filme. 

A decepção que isso gera é enorme, já que os roteiristas tinham em mãos um grande talento da nova geração. Estar em John Wick poderia ser um marco na expansão artística de Sawayama, mas seu papel fica em segundo plano, mesmo que tenha um final inconclusivo, deixando a entender que pode ter uma importância maior em um potencial quinto filme. Que bom que fizemos uma matéria inteirinha só pra ela!

Shamier Anderson

O mesmo pode ser dito de Mr. Nobody, personagem de Shamier Anderson. Pela interpretação carregada de carisma e sagacidade, Anderson poderia ter recebido mais carinho do roteiro. Porém, mesmo que seja uma presença ativa na trama, acaba sendo escanteado também.

Keanu Reeves

Sobre Keanu Reeves, não há muito o que ser falado. Não porque sua performance seja ruim ou algo do tipo, mas ele entrega o mesmo que nas obras anteriores. No mais, o elenco é recheado de estrelas, como Lawrence Fishburne, Bill Skarsgaard, Ian McShane e o recém falecido Lance Reddick, cujos papéis também são satélites, presos na órbita das lutas e tiroteios. 

“Baba Yaga” é isso: a supremacia total da ação sobre todo o resto, e isso não é um defeito. Pelo contrário: é a proposta fundamental da obra. Mas, quando o longa é inchado e arrastado sem uma justificativa plausível para tal, a experiência fica longe de atingir seu potencial máximo.