Oscar 2023: por que a cerimônia foi a melhor dos últimos anos? – Culturadoria

16 de março de 2023 Off Por admin

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo foi o grande vencedor do Oscar 2023, com sete prêmios, mas o destaque da cerimônia foi outro

por Carol Braga | Editora

Já faz tempo que o Oscar está em crise. Aliás, o drama é extensivo a todo e qualquer projeto de transmissão em massa que depois de todas as invenções pós-internet precisou dividir a atenção – e o público – com outras plataformas. Então, na busca desenfreada pela audiência que foi ficando pelo caminho, a grande festa da indústria do cinema perdeu o sal. Cada ano mais previsível, morna.

Oscar 2023. Foto: Phil McCarten

A lista dos vencedores está aqui

Não que a cerimônia de 2023 tenha sido tão diferente disso. Aliás, o resultado era o esperado. Mas a festa teve algo que estava em falta: momentos em que a alegria do homem comum falou mais alto e não o glamour das celebridades intocáveis. Por isso o Oscar 2023 foi o melhor dos últimos anos. 

Por exemplo, a espontaneidade reforçou o peso das narrativas de quem viveu experiências que pareciam de cinema. Os quatro atores premiados da noite – Ke Huy Quan, Brendan Fraser, Jamie Lee Curtis e Michelle Yeoh – têm essa característica em comum. Cada um à sua maneira, todos, de uma maneira ou de outra, colecionam histórias de superação. Inclusive, essas são jornadas de heróis comuns.

Sonhos

Vencedor na categoria ator coadjuvante no Oscar 2023 por Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, Ke Huy Quan é um dos que personificaram a virada na festa. Era o favorito. Mesmo assim, deixou a emoção – o humano – tocar mais fundo. Foi às lágrimas e fez arrepiar com um discurso sobre sonho, reinvenção e superação. 

Sonhos são algo em que você tem que acreditar. Quase desisti do meu. Para todos vocês lá fora, por favor, mantenham seus sonhos vivos. Obrigado. Muito obrigado por me receberem de volta. Eu amo vocês.

Ke Huy Quan Ke Huy Quan emocionado com o prêmio. Foto: Phil McCarten

Logo na sequência, Jamie Lee Curtis manteve o tom. Lembrou que ninguém faz nada sozinho. E ainda homenageou as estatuetas conquistadas pelos pais: Janet Leigh (que fez Psicose) e Tony Curtis. Imagina a cobrança que ela mesma devia se fazer ao longo da vida, enquanto encarava os papéis nos chamados “filmes de gênero”?

Para todas as pessoas que apoiaram os filmes de gênero que eu fiz todos esses anos, as milhares e centenas de milhares de pessoas, nós acabamos de ganhar um Oscar. Juntos.

Jamie Lee Curtis

Imagine o que, em um momento desses, passa pela cabeça de uma atriz que começou a carreira em Hong Kong, ficou conhecida como “a Rainha das Artes Marciais”, faz o filme mais “louco” do ano e ainda desbanca Cate Blanchet? É preciso ser resiliente e demonstrar resiliência é, também, ser humano. “Isso é história sendo feita”, como a própria Michelle Yeoh disse no discurso.

Isso é a prova de que sonhos grandes podem ser sonhados e realizados. E, mulheres, nunca deixem que alguém lhes diga que já passaram do seu auge. Nunca desistam. 

Michelle Yeoh

Mais exemplos? Gente, a plateia cantou parabéns em rede mundial para um aniversariante do dia! Inédito, maravilhoso, humano. E mais: depois do vai, não vai, Lady Gaga aparece de cara literalmente lavada para cantar de jeans rasgado e camiseta. Ela queria que todo mundo prestasse atenção na letra, em nada mais. Ou seja, no essencial.

Ganhar um Oscar é, certamente, um dos momentos de mais visibilidade na vida de quem se propõe a fazer parte desta indústria. Assim, quem passa pelo tapete vermelho (ok, ex-tapete vermelho), topa o famoso “jogar o jogo”. Assim, faz parte daquela dinâmica a busca por se enquadrar em padrões, fazer discursos protocolares, usar trajes de luxo. Mas será que essas não eram características da era de ouro das transmissões em massa?

A busca pela aprovação e pela aceitação pode fazer com que as pessoas escondam aspectos de personalidade ou da vida para se encaixar em uma imagem pré-concebida de sucesso. No entanto, é importante lembrar que a autenticidade é um valor fundamental e que a verdadeira felicidade e realização vêm da aceitação de quem somos, com todas as nossas qualidades e imperfeições.

Lady Gaga de “cara limpa” no Oscar. Foto: Foto: Phil McCarten